Villas-Boas Abala o FC Porto com Estratégia Bilionária no Mercado Mais Caro da História do Clube



A quando da apresentação do treinador italiano Francesco Farioli, André Villas-Boas prometia aos adeptos o "maior mercado de sempre", depois de uma primeira época de presidência em que os resultados desportivos ficaram aquém, com novo terceiro lugar na I Liga.


A promessa foi cumprida, tendo sido operada uma verdadeira 'revolução' no plantel - chegaram 10 reforços por 94,35 milhões de euros (ME), mesmo estando o FC Porto a disputar a Liga Europa pela segunda época seguida.

Os custos totais chegaram aos 111,35 ME, contabilizando também os 17 ME gastos por metade dos direitos económicos de Samu, que fizeram do avançado internacional espanhol o jogador mais caro da história do futebol português, por 32 ME.

No editorial da revista 'Dragões' de agosto, o presidente portista garantiu que esta aposta está "alinhada com as possibilidades do clube, sem nunca perder de vista a sustentabilidade e responsabilidade financeira", um cenário distante da realidade encontrada em maio de 2024, quando sucedeu ao já falecido Pinto da Costa na SAD.

No Relatório e Contas de 2023/24, ainda da responsabilidade da anterior gestão, os 'azuis e brancos' apresentavam prejuízos de 21 ME, face aos 48 ME negativos da época anterior. 

Os graves problemas de tesouraria, numa altura em que o passivo corrente era inferior ao ativo corrente em 246 ME, com um desequilíbrio entre verbas a pagar e a receber por jogadores de 86 ME, levaram, inclusive, Villas-Boas a emprestar 500 mil euros a título pessoal à SAD.

O adiantamento de várias receitas através de operações de 'factoring', nomeadamente dos direitos televisivos, com taxas de juro de cerca de 11%, causava também alertas a médio prazo, mas a liquidez para o recente ataque ao mercado surgiu de vários fatores.

Como Villas-Boas já confessou por várias ocasiões, o FC Porto abdicou do lado desportivo para salvaguardar o financeiro, depois de ter batido o recorde de vendas de passes de jogadores nos dois mercados da época 2024/25, na ordem dos 171,45 ME.

Após terem alcançado 58,15 ME no verão de 2024, os 'dragões' acumularam 113,3 ME na segunda metade da época passada, quando transferiram o médio espanhol Nico González para os ingleses do Manchester City, por 60 ME, e o extremo brasileiro Galeno junto dos sauditas do Al Ahly, por 50 ME, sem que nenhum tivesse sido devidamente substituído.

A participação no Mundial de clubes mitigou de alguma forma a ausência da Liga dos Campeões, com o prémio de entrada a variar entre 11 e 32,8 ME, consoante critérios desportivos e comerciais, ao qual os portistas somaram 1,718 ME, pelos dois empates na fase de grupos.

A atual administração renegociou ainda o contrato rubricado nos últimos dias da anterior presidência com a sociedade espanhola Ithaka Infra III para a exploração comercial por 25 anos do Estádio do Dragão, cuja verba subiu 35 ME face ao montante original de 65 ME, podendo ascender aos 100 ME - metade desse valor foi logo pago em outubro.

Com José Pedro Pereira da Costa, diretor financeiro trazido por Villas-Boas, na liderança das várias operações, a SAD procedeu à maior emissão obrigacionista da história do futebol português, de 115 ME e por 25 anos, à taxa de 5,62%, em novembro, através da colocação privada junto de investidores institucionais no mercado dos Estados Unidos.

Também no mercado de retalho, o FC Porto contraiu dois empréstimos: o primeiro em dezembro, no qual angariou 21 dos 30 ME ambicionados, e o segundo em março de 2025, que atingiu os 50 ME, depois de ter sido elevado o montante total inicial em 20 ME. 

Estes procedimentos permitiram ao FC Porto refinanciar o passivo em condições mais vantajosas, com taxas de juro inferiores e maturidades da dívida mais alargadas: entre junho e dezembro de 2024, o passivo corrente caiu para 238,3 ME, enquanto o ativo corrente subiu para 160,6 ME, reduzindo o desfasamento de curto prazo em 165,6 ME.

No Relatório e Contas do primeiro semestre da época 2024/25, verificou-se também um resultado líquido positivo de 334 mil euros, bastante inferior ao registado no período homólogo, de 35,37 ME, mas inserido num contexto de ausência da 'Champions', que implicou uma diferença de 39,58 ME nos prémios da UEFA.

A SAD recuperou 66,4 ME no capital próprio consolidado e, apesar do aumento do passivo em 27,07 ME, o ativo subiu em 93,47 ME, havendo reduções significativas nas despesas com salários de jogadores e equipas técnicas, em quase quatro ME, com os órgãos sociais, em mais de um ME, e nos serviços externos, de 4,2 ME.

Em agosto, a administração anunciou à Comissão de Mercado e Valores Mobiliários (CMVM) ter concluído a amortização do empréstimo de antecipação das receitas televisivas mais de dois anos antes do estipulado, permitindo-lhe voltar a receber os direitos audiovisuais sobre os jogos em casa para a I Liga, a partir de janeiro de 2026, numa poupança de aproximadamente 6 ME em juros.

As vendas de passes de futebolistas durante o último mercado de verão, que fechou em Portugal na segunda-feira, foram também muito importantes, sem que o plantel ficasse privado de peças basilares, num total de 77,17 ME angariados.

Os extremos Francisco Conceição (Juventus, por 32 ME, além dos 10 ME anteriormente pagos no empréstimo) e Gonçalo Borges (Feyenoord, 10 ME), o defesa central brasileiro Otávio Ataíde (Paris FC, 17 ME) e o lateral direito João Mário (Juventus, 12 ME) possibilitaram os maiores encaixes.

Até ao momento, a aposta forte da administração tem colhido frutos, visto que os 'dragões' iniciaram a I Liga com quatro vitórias em outras tantas partidas pela primeira vez desde 2017/18, a última das quais diante do bicampeão Sporting (2-1), em Alvalade, mas só uma época titulada poderá justificar o investimento.

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