A UEFA já transferiu mais de dez milhões de euros para clubes russos, desde 2022, quando tomou a decisão de afastar a Federação Russa de Futebol (RFS) de todas as competições europeias, devido à invasão por parte das forças militares à Ucrânia, que se mantém em marcha até aos dias de hoje.
A notícia é adiantada, esta sexta-feira, pelo jornal britânico The Guardian, que revela que o organismo recebeu 3.305.000 euros, na temporada de 2022/23, 3.381.000 euros, em 2023/24, e 4.224.000 euros, em 2024/25, em forma de pagamentos de solidariedade, destinados a ajudar os clubes que não conseguem apurar-se para as provas continentais por via dos campeonatos nacionais.
Antes disso, na época de 2021/22, pode ler-se, já tinha sido efetuado uma transferência na ordem dos 6.209.000 euros para a RFS, que, no plano regulamentar, está obrigada a distribuir pelos respetivos clubes, pode ler-se.
Este tipo de pagamentos só é possível porque a RFS nunca chegou a ser formalmente suspensa pela UEFA. Aliás, a sua presença continua a fazer-se sentir junto da direção liderada por Aleksander Ceferin, nomeadamente, por Polina Yumasheva, ex-mulher do bilionário oligarca russo Oleg Deripaska e filha de um antigo conselheiro do presidente, Vladimir Putin, que faz parte do Comité de Boa Governação e Conformidade.
Em 2023, recorde-se, o Comité Executivo chegou mesmo a propor uma reintegração gradual do país nas competições europeias, começando pela seleção de sub-17, mas a medida acabou por ser vetada, depois de um total de 12 federações nacionais terem vindo a público para se oporem contra a mesma.
Situação causa incómodo na Ucrânia
O facto de a UEFA continuar a financiar o futebol russo está a causar indignação, particularmente, na Ucrânia. De tal maneira que os presidentes de cinco clubes endereçaram, no passado dia 27 de julho, uma carta a Aleksander Ceferin, reclamando da "situação extraordinária" que levou a que os fundos de solidariedade a que teriam direito, em 2023/24 e 2024/24, fossem retidos, por estarem sediados em "zonas de operação militares".
Em causa, estão Chornomorets, Real Pharma (de Odesa), IFC Metalurg (de Zaporizhzhia), FSC Phoenix (de Mariupol) e FC Metalist 1925 (de Kharkiv): "Como resultado da nossa comunicação, quer com a federação nacional, quer com direções da UEFA, fomos informados que os obstáculos aos pagamentos referidos partem de requisitos completamente opacos de um banco na Suíça, que, alegadamente, estão relacionados com a localização geográfica dos clubes de futebol na 'zona de guerra'".
"Não recebemos qualquer outra informação detalhada ou justificação legal para esta restrição nos pagamentos. As palavras usadas em relação às 'zonas de operações militares' é completamente opaca para nós e não corresponde à realidade. A zona de operações militares, ou melhor, a zona de agressões militares da Rússia, não é uma região específica do país, mas toda a Ucrânia", pode ler-se.
"Muitos adeptos fiéis do futebol ucraniano foram para a linha da frente, desde os primeiros dias das agressões, muitos dos quais, infelizmente, nunca mais poderão apoiar as suas equipas no estádio, tendo morrido com os nomes das suas pessoas favoritas e da sua equipa favorita nos lábios", prossegue a missiva.
"Nesse sentido, neste período difícil para o nosso país, qualquer assistência e apoio financeiro adicional irá, certamente, ajudar os clubes a aliviar o fardo dos gastos financeiros, que, tal como mencionado acima, devido às circunstâncias da agressão militar, não podem ser equilibrados com possíveis receitas", completa.